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Marca Bahia Notícias

Notícia

Em texto, curador da Flica critica protesto que forçou cancelamento de mesas

Por Marília Moreira

O curador da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) Aurélio Schommer publicou, no início da tarde desta segunda-feira (28), um texto em repúdio às manifestações que forçaram o cancelamento de duas mesas do evento no sábado (26). O clima ficou tenso na manhã do quarto dia de festa, após um grupo de estudantes da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) protestar durante um debate com o geógrafo e sociólogo Demétrio Magnoli, conhecido por ser contra as cotas raciais. Chamado de “racista”, o pesquisador não conseguiu continuar a falar na mesa chamada “Donos da Terra? - Os Neoíndios, Velhos Bons Selvagens“ e o evento acabou suspenso. A mesa da noite, intitulada “As Imposições do Amor ao Indivíduo”, que contaria com as presenças do filósofo Luiz Felipe Pondé e do sociólogo Jean-Claude Kaufmann, também foi suspensa devido à ameaça de novos protestos e à falta de garantia da integridade física dos convidados. No texto, Schommer, que também é autor de “História do Brasil Vira-Lata: As Razões Históricas da Tradição Autodepreciativa Brasileira", questiona os motivos pelos quais quiseram proibir Demétrio Magnoli, Maria Hilda Baqueiro Paraíso, Jean-Claude Kaufmann e Luiz Felipe Pondé de falar em uma festa literária. Confira texto na íntegra:
 
"SOBRE OS ATAQUES À LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA FLICA
 
Há coincidências que parecem profecias. Há uma semana, dei uma entrevista no Conselho Estadual de Cultura. Entre outras opiniões, disse que Voltaire era proibido na França, lido escondido, pois suas ideias eram subversivas. E emendei: as ideias de Voltaire são subversivas no Brasil de hoje. Porém as ideias dele mudaram o mundo, pois os indivíduos começaram a se perguntar: por que proíbem seus livros?
 
Assim, a pergunta que fica após a agressão de inimigos da liberdade de expressão à Flica, que nos fez cancelar a participação de quatro autores, é: por que quiseram proibir Demétrio Magnoli, Maria Hilda Baqueiro Paraíso, Jean-Claude Kaufmann e Luiz Felipe Pondé de falar numa festa literária? O que de tão perigoso e subversivo eles teriam a dizer? Quem se propôs à violência para calá-los têm medo de quê?
 
Não vamos responder à violência com violência. Vamos aproveitar que os livros de Demétrio Magnoli, Maria Hilda Baqueiro Paraíso, Jean-Claude Kaufmann e Luiz Felipe Pondé ainda podem circular no Brasil (se dependesse deles, certamente seriam queimados) e descobrir nos livros deles o que de tão perigoso, de tão subversivo, há em suas ideias. Se fizermos isso, o mundo muda, como mudou quando começaram a se perguntar por que Voltaire era subversivo."

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