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Marca Bahia Notícias

Notícia

Resistência dos cabelos afro é tema de obra no I Prêmio da Música Contemporânea da Bahia

Por Ailma Teixeira

Guilherme Bertissolo | Foto: Reprodução / Facebook
Com "Cabelo (Fricotando)", obra também inspirada na música da “nega do cabelo duro” – Fricote inspirou os trabalhos dos finalistas Héctor Garcés e Emílio Otero –, o gaúcho Guilherme Bertissolo, 31, é o segundo finalista do I Prêmio da Música Contemporânea da Bahia, que acontece nesta terça-feira (20), na Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba). "Ela é uma homenagem ao cabelo afro. Se eu tivesse cabelo crespo, eu não pentearia ele, eu pensei muito nessa ideia de cabelo. Além de uma homenagem a todas as formas de resistência”, afirma. Bertissolo conta que já vinha estudando o cabelo crespo e descobriu a história de Luísa Mahin, escrava africana radicada no Brasil, que se tornou líder da Revolta dos Malês. Em meio às pesquisas, encontrou um poema de Luís Gama, filho de Luísa, em homenagem à mãe e o inseriu em trechos da sua obra. "É não só a todos os cabelos afros, mas ao cabelo afro da Luísa Mahin e essa forma de resistência que ela conseguiu operar no século XIX. A peça é um grito de libertação, um cabelo mais político”, defende.
 
Filho de músico, Bertissolo foi uma criança que sempre teve contato com a arte em casa, que brincava com os instrumentos. “Quando comecei a estudar, descobri o violão, primeiramente o erudito, e fui cada vez ficando mais emaranhado com esse universo”, comenta sobre a música contemporânea. Lá no Rio Grande do Sul, não conhecia tanto da axé music. “Eu me lembro, criança, de ver essas músicas todas da televisão, era um movimento de longe”, conta. Foi com uma espécie de memória dessa visão e conhecimento que o músico criou sua obra dentro da proposta de “Erudito com Axé” para a premiação. “Eu sou uma espécie de extraterrestre que acabou se apropriando do tema”, define.

 

 
Com mestrado e doutorado em Composição pela Ufba, Bertissolo já vive na capital baiana há oito anos. Aqui, ele desenvolveu outra paixão: a capoeira. "Lá no sul eu fiz um pouco de capoeira, mas era bastante misturada, o que se chama de capoeira contemporânea hoje em dia. Mas foi aqui na Bahia que eu entrei em contato com a Fundação Mestre Bimba, do Mestre Nenel, e, de seis anos pra cá, eu tenho treinado com eles", conta. Foi esse interesse pela cultura do Estado que o motivou a se inscrever na premiação. "Eu achei a iniciativa realmente fantástica, desde a temática, que é totalmente pertinente com homenagem aos 30 anos da axé a essa possibilidade da relação com a música de concerto. Eu fiquei muito intrigado com isso, foi tudo bem articulado", justifica. 
 
De várias bandas desconhecidas da adolescência, Bertissolo hoje toca na OCA – Oficina de Composição Agora, grupo de concertos que, comumente, se apresenta na Reitoria da Ufba. Como músico, toca contrabaixo elétrico, seu “instrumento do coração” e violão. Com alguns prêmios no currículo, Bertissolo se sente agraciado em participar do I PMCB. "É uma grande honra, eu fico muito contente e torço para que seja uma ação contínua e não pare esse ano". Além de ter "Cabelo (Fricotando)" entre as canções executadas, gravadas e distribuídas na premiação, o músico concorre à encomenda de uma obra a ser estreada pela Orquestra Sinfônica da Bahia, categoria de voto popular.

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