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Marca Bahia Notícias

Notícia

‘Pensei até em trazer o meu sofá pra me sentir mais em casa’, diz João Bosco em Salvador

Por Jamile Amine

Foto: Jamile Amine / Bahia Notícias

O cantor e compositor mineiro João Bosco retorna a Salvador para um show solo e especial, em comemoração aos cinco anos de atividade do Café-Teatro Rubi, nesta sexta-feira (26) e sábado (27), às 20h30. “Eu pensei até em trazer o meu sofá pra me sentir mais em casa mesmo (risos)”, brinca o artista, sobre a apresentação em formato voz e violão, na qual tocará seu repertório de sucessos, como “O Bêbado e a Equilibrista”, “Corsário” e “Falso Brilhante”, novas músicas autorais, além incluir clássicos de outros autores. “Quando você está solo, você pode tocar coisas de momentos diferentes, de formatos diferentes. Lógico, tem uma meia dúzia de canções que você tem que tocar, porque as pessoas vão ali pra ouvir, mas a partir dali você fica bem à vontade pra fazer um repertório que as pessoas acabam conhecendo. Às vezes são outros compositores importantes na história da música brasileira, e que exercem um fascínio constante na gente. Então a gente está sempre tocando esses caras, porque no fundo a gente acha que estar perto deles é uma maneira também de ter um vigor semelhante ao que eles tiveram...”, explica João Bosco, citando nomes como Dorival Caymmi, Tom Jobim, Milton Nascimento e Ary Barroso.


De volta à Bahia, de onde ele diz ter a sensação de nunca ter saído, o músico apresentará ao público também algumas músicas de seu mais novo trabalho, “Mano que Zueira” (2017), lançado após 8 anos sem um álbum de inéditas. Com novas e antigas parcerias, a exemplo de Aldir Blanc, Arnaldo Antunes e o filho Francisco Bosco, o CD tem ainda o toque de um célebre baiano, o sambista Roque Ferreira, que junto com João assina a faixa “Pé-de-vento”. A história da música envolve muitas coincidências e uma atmosfera mágica que só a arte é capaz de explicar. “Essa parceria com Roque Ferreira foi uma coisa de orixá mesmo”, destaca João Bosco. Acompanhando a turnê comemorativa de 50 anos de Maria Bethânia, ele foi chamado por ela no camarim para ouvir uma canção que a artista santo-amarense queria incluir em seu repertório. “Ficamos conversando e ela falou assim: ‘eu queria te mostrar uma canção, vou cantar à capela pra você, porque eu queria que você fizesse uma espécie de harmonização dessa canção’. E aí ela cantou uma canção do Roque Ferreira, chamada ‘Doce’, uma canção em que ele fala da Bahia, dos orixás da Bahia, da culinária baiana e principalmente de Dorival Caymmi, que ele considera um dos responsáveis por tudo isso”, lembra João. 

Foto: Jamile Amine / Bahia Notícias


“É uma canção linda e eu fiquei com ela na cabeça e tentei trabalhar naqueles dias. Só que nesse meio tempo eu acabei fazendo um samba, e eu achava que esse samba teria vindo dessa atmosfera aí, que ligava Bethânia com Roque Ferreira. E achei apropriado que ele fosse avisado”, conta o músico, que não conhecia o artista baiano pessoalmente. “E através de um amigo comum - porque ele não é uma pessoa fácil de achar -, que achou alguém aqui que chegou até ele [Roque], propôs essa ideia e ele gostou. Eu mandei a música e não falei nada. Não falei a história da Bethânia, nada disso. Três dias depois ele mandou a letra de volta. Eu já estava me preparando para entrar em estúdio e nem tinha certeza se nós íamos fazer a tempo. Então Roque mandou a música e acontece que no final da letra ele fala no orixá da Bethânia sem saber que ela estava envolvida nisso. Então foi bem interessante, uma coisa bem espiritual. E foi assim que surgiu ‘Pé-de-vento’”, explica.

 

Confira a parceria entre João Bosco e Roque Ferreira:


O “Mano que Zueira” vem no mesmo período em que outros dois medalhões da música brasileira - Chico Buarque e Gilberto Gil - lançam novos trabalhos autorais.  Para João Bosco, faz todo sentido. “Eu acho que foi um momento importante sim. Não foi pensado, mas eu acho que essas coincidências não acontecem à toa. Quer dizer, tem alguma coisa acontecendo e de repente quando você vê todos coincidem para um ponto que é o lançamento de um trabalho que as pessoas estavam ali, em segredo, tramando essas ideias e tudo. Mas esses momentos existem, assim como existem outros momentos de seca. Eu gosto de você falar isso, porque às vezes as pessoas não fazem essa leitura. Mas esses dois últimos anos foram momentos importantes dentro da música brasileira, aconteceram movimentos de diversos gêneros que mostraram a força da música, a força da ideia do artista brasileiro e ele também encontrando de forma comum esse momento criativo”, avalia o artista, que se diz mais esperançoso do que otimista. “Não é que eu não seja otimista, mas eu acho que a questão do otimismo dialoga muito com uma coisa assim: ‘ah, não esquenta não, vai dar tudo certo, não se preocupe’. A gente vê toda hora isso, a gente está cansado de ver essa expressão, mas ela não tem vínculo, um comprometimento, com o que vai ou o que você acha que vai dar certo. A esperança sim tem esse comprometimento. Ela dialoga com achar que as coisas vão ser diferentes no sentido daquilo que a gente está esperando que seja, mas nós temos que participar disso, ser parte efetiva desse movimento. Enquanto o otimismo não, fica só do lado de fora numa coisa inconsequente. Na esperança eu gosto desse conceito de que as coisas poderão ser diferentes como a gente espera, mas é preciso que cada um faça sua parte”, diz João.


Este sentimento, ao qual o compositor mineiro diz ter predileção, acabou batizando a operação da Polícia Federal, “Esperança Equilibrista”, inspirada em um das mais célebres composições de João Bosco e Aldir Blanc: “O Bêbado e a Equilibrista”. “Aquilo foi terrível, foi um mal entendido. Pode ser que alguém da corporação goste da música, se identifique. Tem isso, porque às vezes a música fora do contexto dela existe também”, avalia o artista, sobre o uso da composição que acabou virando um hino contra a ditadura militar no Brasil, e que foi usada para nomear uma operação que previa a condução coercitiva do reitor Jaime Ramírez e de outros dirigentes da Universidade Federal de Minas Gerais, em 2017. “Na mesma hora eu fui averiguar, falei com meu parceiro: Olha, a gente tem que se posicionar diante disso, porque está havendo um engano em relação às pessoas que estão usando essa música com essa finalidade e nós temos que nos posicionar”, lembra o artista, revelando que a canção nasceu no Natal de 1977, após a morte de Charlin Chaplin, inspirada em “Smile”, do humorista britânico. “‘Smile’ é uma música que ele fez e pedia o sorriso a todo custo. Smile, não é? Chorar pra quê?”, diz João. “Então comecei a fazer uma espécie de samba enredo influenciado pelo ‘Smile’. Pô, cheguei no Rio de Janeiro, chamei o Aldir, e falei:  ‘bicho fiz um samba pensando no Chaplin’. E ele falou: ‘porra, mas é perfeito’. E aí ele levou o samba e veio com ‘O Bêbado e o Equilibrista’, que é uma coisa completamente Chapliniana!”, conta.

 

SERVIÇO
O QUÊ:
João Bosco             
QUANDO:  Sexta-feira e sábado, 26 e 27 de outubro, às 20h30
ONDE: Café-Teatro Rubi - Salvador
VALOR: Couvert artístico de R$ 180

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