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Marca Bahia Notícias

Notícia

Vânia Abreu celebra riqueza da MPB e convoca todas as tribos para carnaval no ‘Baile Tudo’ 

Por Jamile Amine

Foto: Divulgação

Se no “Vale Tudo” de Tim Maia na verdade era permitido quase tudo, menos homem com homem e mulher com mulher, o “Baile Tudo” de Vânia Abreu e Marcelo Quintanilha celebra, de fato, o encontro das diferenças para a totalidade das tribos, credos, cores, ouvidos e amores possíveis. 

 

O projeto, que tem como proposta celebrar o carnaval através de diversos ritmos da música brasileira, estreia neste sábado (28), a partir das 20h, no Largo Quincas Berro D'água, Pelourinho, e não por acaso. “É uma aposta (risos). É um aposta de um lugar que já tem acolhido as festas e por ser também um lugar de mistura, de termos turistas, baianos, baianos descolados. É um lugar, vamos dizer, de encontro de classes sociais e talvez de tribos”, explica Vânia, que nesta primeira edição convidou Márcia Castro para uma participação especial.

 

A semente que fez germinar o “Baile Tudo” foi plantada em 2006, com o disco e show "Pierrot & Colombina", no qual ela e o marido Marcelo Quintanilha exploraram a festa momesca por meio de clássicos da MPB, evidenciando o amor de um casal heteronormativo. “O ‘Pierrot & Colombina’, pra mim, é um projeto atemporal. O próprio disco e o show podem voltar a qualquer momento. Eu só acho que só faz sentido apresentar algo de novo, igual, se você vai apresentar pra pessoas diferentes”, avalia a cantora, lembrando que a capital baiana já recebeu o show algumas vezes. “Não cabia voltar pra Salvador com o mesmo espetáculo. Então, quando Quinta, que é meu marido, falou que queria voltar com o projeto, eu na verdade falei que, pra mim, só interessava voltar se eu pudesse falar de algo diferente, exatamente porque acho que o contexto histórico, político e social é diferente”, diz a cantora e compositora baiana, destacando que “reafirmar a legitimidade de um amor hétero de carnaval não é necessário nesse momento” e que hoje o país precisa que “os artistas se coloquem em defesa de outros temas”.

 


"Baile Tudo" chega cerca de 15 anos depois do "Pierrot & Colombina" | Foto: Divulgação

 

É exatamente com esta proposta que a cantora sobe ao palco neste sábado, para exaltar a mistura  seja de público ou de estilos musicais , e, sobretudo, destacar a riqueza das diferenças sem estabelecer enquadramentos. “Quase 15 anos depois, a ideia de voltar com o projeto pra Salvador e vir com o ‘Baile Tudo’ remete primeiro ao momento histórico, político, social e cultural que nós vivemos, em que várias coisas podem ser incluídas, e por isso ele me interessa”, diz Vânia Abreu, salientando que não perdeu o interesse pelo "Pierrot & Colombina", mas que o “Baile Tudo” neste momento “vem pra reafirmar toda forma de amor, toda forma de ser, e também a presença da música brasileira de não dividir as pessoas em tribos”. 


Em uma análise do cenário nacional, Vânia diz que apesar de ver os artistas se manifestarem a favor da liberdade em um momento de conservadorismo, “a música, em si, está segmentando as pessoas”, que se restringem a consumir um único segmento. “Cada um segue a música que ouve e a gente não ouve a música do outros, e as músicas são quase que identitárias de quem você é”, avalia a artista, que, para entrar na contramão, faz uma aposta alta. “Eu me propus voltar ao palco com uma proposta absolutamente diferente do que eu sou e do que transito como artista, que é uma música com ritmos dançantes. E aí são todos eles [os ritmos] que a gente está tentando incluir, com seus andamentos e suas histórias estéticas diferentes, inclusive pra exatamente misturar o mundo, mostrando que a música é algo que nos une”, afirma.

 


Evento terá a participação de Márcia Castro | Foto: Divulgação / Nanda Lírios


Para alcançar o objetivo e reforçar a possibilidade de agregar e não dividir, a cantora encontrou uma solução: “Exatamente misturando os estilos todos da MPB que sempre estiveram no carnaval, mas como MPB”. Ela explica que apesar do espetáculo propor celebrar o carnaval, não é necessário manipular as canções para que possam se encaixar na festa. “Vamos supor, eu vou cantar uma música de Tim Maia, eu não preciso tornar ela carnavalesca. Ela já existe naquela forma, que é o ‘Vale Tudo’, que está dentro do contexto. Eu não preciso tornar ela carnavalesca, ela já é feita pra dançar”, avalia Vânia Abreu, destacando o intuito de evidenciar que todas estas nuances estão contidas na história da música brasileira, que tem ritmos e estilos diferentes. “A gente não vai mudar a música pra virar carnaval, a gente vai dançar daquele jeito”, explica a cantora. “Vamos dizer, mesmo eu tendo me descoberto hétero, como eu costumo dizer, tendo cabido em mim ser hétero (risos), eu não deixei de ouvir essas músicas que falavam em outra possibilidade de ser porque eu era hétero. Isso me ajudou, inclusive, a entender essa magnitude e essa diversidade do mundo”, exemplifica.


Inspirado na lógica do tropicalismo, o repertório do carnaval do “Baile Tudo” é uma espécie de mosaico, reunindo grandes clássicos de várias gerações da música brasileira, abrangendo estilos como axé, rock, pop, forró e MPB. “Hoje em dia é assim, funk só toca funk. Se ele inclui uma música, inclui como funk. Aí, o sertanejo, se inclui uma música, ele torna sertanejo. O tropicalismo fez exatamente o contrário. E ele me ensinou a ver o mundo muito melhor, exatamente porque ensinou o meu ouvido a entender outros ritmos, me fez entender o mundo dos outros, na verdade abraçando todos os mundos, e não modificando o mundo como se você fosse só uma coisa”, contextualiza a artista baiana. “Eu acho que esse lugar é aquele que talvez a gente precise revisitar de novo hoje. Talvez eu tenha a pretensão de, nesse pequeno espaço do mundo, no Largo Quincas Berro D’água, no sábado, provocar as pessoas a sentirem esses ritmos e essas letras desse jeito diferente de novo”, diz a cantora, que pretende colocar o público para dançar ao som de nomes como Lulu Santos, Tim Maia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Erasmo Carlos, Roberto Carlos, Jane e Herondy, Fábio Júnior, Marina Lima, Rita Lee, Rosana, José Augusto e Fagner. “Vão ter performances, vamos ler poesia que tem a ver com o momento e com a letra... A brincadeira vai ser essa mesmo, e cada uma dentro do seu ritmo”, conta.

 


Além do "Baile Tudo", a artista tem diversos projetos engatilhados | Foto: Divulgação

 

NOVOS PROJETOS

Prestes a estrear com o “Baile Tudo”, Vânia Abreu guarda ainda diversas surpresas para um futuro bem próximo. “Tenho vários [projetos]! (risos). Tenho três livros prontos, que estão em fase de finalização para lançamento. Eu lanço em novembro um single, em dezembro eu lanço um álbum e um show novo em comemoração. E depois, no ano que vem, eu quero fazer o show desse disco novo”, conta a artista, que diz estar trabalhado “que nem uma louca”. 


Destacando o contexto no Brasil e no mundo, no qual observa “uma crise histórica, política, social e muito sem esperança de como isso vai acabar”, ela encontra no trabalho uma espécie de remédio para os males da atualidade. “Eu acho que tem uma ideia de que hoje também, como artista, eu preciso mais do que nunca produzir e apresentar coisas que talvez ajudem o mundo a ser melhor. Então, eu tô com muito desejo de produzir mais!”, declara. 

 

SERVIÇO
O QUÊ:
Baile Tudo – com Vânia Abreu e Marcelo Quintanilha 
QUANDO: Sábado, 28 de setembro, às 20h
ONDE: Largo Quincas Berro D'água –  Pelourinho – Salvador (BA)
VALOR: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)

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