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Marca Bahia Notícias

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Cultura popular deve ser ainda mais 'sufocada', avalia pesquisador baiano

Foto: Reprodução / YouTube

O cenário apontado no livro "Música e Ancestralidade na Quixabeira", do doutor em Políticas Culturais e Audiovisual pela UFBA, Sandro Santana, mostra como o aumento do desinteresse das novas gerações, o êxodo rural e o avanço das igrejas evangélicas ameaçam a manutenção da cultura popular e das festas religiosas sincréticas. As manifestações também estão, segundo o pesquisador, sofrendo com a falta de apoio do poder público.

 

“As manifestações – samba de roda, capoeira, jongo, maracatu, coco, umbigada etc. – que compõem aquilo que se denomina cultura popular foram sempre coadjuvantes nas políticas públicas. Num momento em que se elege um governo que não só despreza, como também persegue as produções não alinhadas com seu projeto, o quadro torna-se ainda mais preocupante. E a tendência é piorar”, avaliou o pesquisador.

 

Para a Carta Capital, Santana indicou que as escolas se tornaram as únicas trincheiras de enfrentamento ao cenário difícil. “Nelas, conseguimos mobilizar mais famílias para algum evento em torno das manifestações culturais ancestrais destas comunidades, sem entrar em choque com as preferências religiosas por tratar-se de um espaço neutro”.

 

O pesquisador tem vivência nas artes e com produção de registros e shows de expressões culturais no interior do Nordeste, como de Quixabeira - uma região no agreste do estado que foi objeto de estudo do livro.

 

Os fundos de cultura estaduais são, para Sandro, um dos poucos caminhos de fomento à cultura popular no país atualmente. “Afinal, as leis de incentivo são, historicamente, terra arrasada para estas manifestações”. Ainda assim, os recursos destinados são invariavelmente mais baixos do que para outros setores, apesar das exigências burocráticas serem equivalentes.

 

“Nos editais de audiovisual, setor que disponibiliza mais recursos e possibilidades de comunicação com os membros dessas comunidades, as empresas se tornam proponentes e detentoras dos direitos patrimoniais dos projetos. O resultado é que os protagonistas destas histórias são alienados dos resultados que a sua cultura produz. Em muitos casos, sequer veem os filmes produzidos sobre eles”, explica Santana.

 

“Após um período de construção de uma política democrática e de combate aos estereótipos culturais, estas iniciativas não conseguiram adentrar no cotidiano das pessoas”, relata Sandro, citando os anos em que Gilberto Gil esteve à frente do extinto Ministério da Cultura. 

 

Nos primeiros anos da gestão de Gil, editais específicos para a cultura popular chegaram a dar um gás para a área, fazendo com que surgissem novas lideranças. “Mas a partir do momento em que reduzimos o pensamento da cultura enquanto números e ao seu poder de gerar impostos, as manifestações da cultura popular se transformam em commodities”, finalizou.

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