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Marca Bahia Notícias

Notícia

'Grito de liberdade para todas as mulheres', resume diretor sobre musical 'A Cor Púrpura'

Por Júnior Moreira Bordalo / Ailma Teixeira

Foto: Divulgação

Sucesso na indústria do entretenimento desde 1982, “A Cor Púrpura” aporta em Salvador a partir desta quinta-feira (5) até o próximo domingo (8), no Teatro Castro Alves. O musical que traz uma adaptação do livro “A Cor” de Alice Walker, primeira escritora negra a ganhar o Pulitzer – prêmio estadunidense outorgado a pessoas que realizem trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical – teve sua versão em filme lançado em 1985 com direção de Steven Spielberg e recebeu 11 indicações ao Oscar.

 

A transposição para os palcos ocorreu em 2005, na Broadway, Estados Unidos. Em 2016, houve uma nova montagem, rendendo à produção dois prêmios Tony e o Grammy de Melhor Álbum de Teatro Musical. A versão brasileira foi roteirizada por Artur Xexéo. “O que acontece com essa peça é que expõe um momento em que todos estão sendo oprimidos. Então, é um grito de liberdade para todas as mulheres. Fala de racismo, algo que a gente vê o tempo inteiro, sobre o amor e como reorganizamos todo o caos brasileiro e universal. Só o amor realmente salva. É sobre a esperança”, destaca o diretor Tadeu Aguiar ao Bahia Notícias. 

Diretor Tadeu Aguiar | Foto: Reprodução / Instagram 

 

Com 17 atrizes e atores negros em cena, a história apresenta a trajetória e luta de Celie (Letícia Soares) contra as adversidades impostas pela vida a uma mulher negra, na Geórgia, no decorrer da primeira metade do século XX. Na adolescência, a personagem tem dois filhos de seu suposto pai (Jorge Maya), que a oferece a um fazendeiro local para criar seus herdeiros (entre eles, Harpho - Alan Rocha), lavar, passar e trabalhar sem remuneração. Ela é tirada à força do convívio de sua irmã caçula Nettie (Ester Freitas) e passa a morar com o marido Mister (Sérgio Menezes).

 

Enquanto Celie resigna-se ao sofrimento, Sofia (Lilian Valeska) e Shug (Flávia Santana) entram em cena, mostrando que há possibilidade de mudanças e novas perspectivas, esperança e até prazer. A saga aborda questões sociais como a desigualdade, abuso de poder, racismo, machismo, sexismo e violência contra a mulher. “Acho que a peça não tem um tema americano, é universal. Toca as pessoas em qualquer lugar do mundo. Aqui no Brasil toca mais, pois a ferida do racismo é muito aberta. Ninguém sai do espetáculo impune, sabe? De alguma forma muda o pensamento. Sem ser romântico, é uma peça amorosa, do amor humano, da compaixão”, atesta.

 

Branco, Aguiar detalhou que discussões em grupos étnicos ocorreram por se tratar de uma temática que ele não consegue alcançar. “O meu maior receio era o de um diretor branco dirigindo um espetáculo sobre a história negra. Isso foi muito comentado nas redes sociais e alguns sites. ‘Como eu saberia dirigir se não senti aquela dor?’. A dor não é minha, mas o mundo é múltiplo. Entendo aquela sensação e entendendo que posso ajudar a construir uma visão mais ampla, não só da dor deles, mas também com a visão que eu tenho”, defende-se.

 

“Tinha visto o filme e lido o livro. Em 2015, vi a peça na Broadway e não consegui nem levantar da cadeira no primeiro ato. Fiquei muito tocado. Há três anos, dirigi o ‘Love Story’ só com atores negros também e um amigo me ligou perguntando: ‘Tenho um namorado que é negro. Você tem um papel para ele na peça?’. Levei um susto. Como é que alguém pode falar se ‘tem papel para negro?’. Tem papel para ator. Foi o meu primeiro alerta. Com 11 indicações ao Oscar, ‘A Cór Púrpura’ não ganhou nenhum.  A gente tem que acabar com essa história de que no texto vem especificado qual a etnia do ator. Precisamos findar essa história de ator branco e ator negro”, complementou.

 

MAIOR CONCENTRAÇÃO DE NEGROS FORA DA ÁFRICA

Com cinco meses no Rio de Janeiro e em São Paulo, quase 60 mil pessoas assistiram ao espetáculo, que já recebeu mais de 30 indicações e 14 prêmios de teatro em diversas categorias. Desde o início, o projeto foi pensando para fazer temporada em Salvador. “Aqui, pelo que me consta, é a cidade fora da África com maior número de negros concentrados. Porém, acho que existem poucas peças que vocês [baianos] podem se ver, se reconhecer em cena. É lindo quando você encontra uma plateia preta com 17 atores pretos contanto uma história”, enaltece.  

 

Para Aguiar, a maior dificuldade, além da econômica, é o descrédito da classe com produções deste tipo. “Nos últimos cinco anos, a nossa produtora já recebeu o maior número de indicações a prêmios da história do musical brasileiro. Porém, boa parte dos colegas e da imprensa acha um gênero menor. Para mim é mais complexo um musical do que um drama ou comédia comum. Não dá para colocar qualquer pessoa para fazer um musical”, enfatiza.

 

Contudo, ele acredita que a peça trará uma mensagem para os baianos de “abrir o coração”. “De se ver no outro mesmo que ele seja diferente de você. Parece banal, mas é muito profundo. O que está acontecendo é que a gente julga muito o outro e não se coloca no lugar. Estamos cercados de ódio”. A direção musical é de Tony Lucchesi. Os ingressos variam entre R$ 20 e R$ 80. Confira trecho do espetáculo em matéria produzida pelo "Fantástico": 

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