Livro aborda a negritude e a infância a partir das memórias de um nome curioso: 'Catrapissu'
"Catrapissu" é um nome que à primeira vista parece curioso. Sem significado definido nos dicionários de língua portuguesa, seja Aurélio ou Houaiss, ele foi escolhido pela escritora e museóloga Joana Flores como o título para o seu mais novo livro, lançado no último dia 20 de dezembro.
Na obra, dedicada ao público infantojuvenil, a expressão toma forma e define o apelido da protagonista. O que acontece depois disso é o que norteia a narrativa central do escrito, que fala sobre questões como ser uma criança negra e querer ser identificada para ser lembrada da maneira como ela é.
"'Catrapissu' é o apelido que uma menina recebeu de seu tio. Foi o nome que ela procurou o tempo inteiro. Enquanto o tio dela existia, ela procurou saber o que era. Esse não era o nome dela, mas o apelido que o tio sempre a chamou", comenta a autora Joana Flores ao falar sobre ter se inspirado em uma história real para escrever a obra.
Joana tem mais 2 livros publicados | Foto: Reprodução/Instagram
Este é o quarto livro que Joana escreve. O primeiro, com 13 anos, jamais foi publicado e acabou se perdendo em uma das mudanças que fez durante a vida, mas em 2010 publicou o também infantojuvenil "O dia em que as crianças salvaram a Terra", em co-autoria com Cristina Melo. No ano de 2017, ela colocou a mão na massa e pôs nas bancas o acadêmico "Mulheres Negras e Museus de Salvador: Diálogo em Branco e Preto", em que traz para as páginas sua experiência acadêmica e profissional com a memória, a questão racial e os museus.
"O primeiro tratava da relação com a natureza e colocava a história de um mundo - que parece até com o que está acontecendo hoje - onde precisavam que as pessoas se unissem em prol do bem maior. Já a relação com mulheres negras em 'Diálogo em Branco e Preto' é a da memória. 'Catrapissu' tem essa questão da memória a partir dessa narrativa que existiu. Ele faz uma relação com os outros dois livros anteriores quando trata de gênero, de pessoas, de raça e identidade", justifica a autora, que tem outros escritos acadêmicos em coletâneas.
A tarefa de escrever para o público infantojuvenil, explica Flores, fez com que em "Catrapissu" ela pusesse em prática um lado ainda não visto anteriormente, o da poesia.
Ainda sobre o título e o apelido da menina, ela brinca. "Ela realmente existiu. E quem sabe Catrapissu não foi eu? Pode ter sido minha irmã consanguínea ou da irmandade negra. Ela traz uma aproximação muito grande com o universo infantil de uma menina negra", afirma.
"Mas tem uma característica que eu acho bacana enfatizar. É que mesmo a criança negra da periferia, com todas as mazelas que sofremos, ainda assim conseguimos construir um universo colorido", destaca Joana ao dissertar sobre o lado lúdico que o livro traz com suas imagens e cores. O projeto gráfico é de autoria de Jonhy Karlo e Alan Alves.
"Catrapissu" também ganhou uma música que ainda deverá ser disponibilizada nas plataformas digitais. Os interessados em adquirir o livro poderão fazê-lo através do site (clique aqui).