“Lula deveria ter nomeado uma mulher negra”, defende Angela Davis sobre indicação ao Supremo
A filósofa e ativista negra feminista norte-americana, Angela Davis, saiu em defesa da indicação de uma mulher negra para o Supremo Tribunal Federal (STF). "Lula deveria ter nomeado uma mulher negra para a suprema corte brasileira, mas não qualquer mulher negra", disse em entrevista à Folha de S.Paulo.
Davis criticou a escolha de Cristiano Zanin para a vaga. O advogado será o nono ministro homem e branco na atual composição do STF. "Representação é importante, especialmente em um país como o Brasil, que finge publicamente ser uma democracia racial desde sempre, um lugar onde não há racismo", analisou.
"Ao mesmo tempo, temos de deixar bem claro que, quando enfatizamos a importância de nomear pessoas negras e outras pessoas de cor, não estamos nos concentrando apenas na raça, mas também na política", afirma ela.
A escritora ilustra sua afirmação com o contra-exemplo norte-americano. "[O juiz] Clarence Thomas foi nomeado para a suprema corte dos Estados Unidos por ser negro, mas ele é o membro mais reacionário e conservador da corte", comentou.
Para a intelectual, que é professora emérita da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, um dos vetores da frustração de ativistas brasileiros com o desfecho da indicação presidencial ao STF é o fato de "ainda não sabermos como criticar lideranças políticas que adotamos como progressistas".
"A crítica pode ser feita de forma que não seja negativa, mas é com ela que você garante que os líderes políticos permaneçam fiéis àqueles que os elegeram", afirma. "Um dos nossos maiores problemas nos EUA foi que não criticamos [o ex-presidente dos EUA Barack] Obama como deveríamos", disse.
"As pessoas estavam muito relutantes em fazer críticas e manifestações porque tinham medo de serem associadas a outros críticos da direita. Essa é uma síndrome que precisa ser superada se quisermos seguir em uma direção realmente progressista", acrescenta.
Angela Davis vem ao Brasil em julho e participará do XVIII Congresso Internacional da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), na Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Salvador. O evento acontecerá entre os dias 10 e 14 de julho. Ela estará presente no dia 11 na Mesa 4, com o tema “Abolicionismo. Feminismo. Já?”, junto com Gina Dent, também da Universidade da Califórnia, e Denise Carrascosa, pesquisadora da Ufba.
Ainda no Brasil, Davis lançará o livro "Abolicionismo. Feminismo. Já", editado pela Companhia das Letras, em co-autoria com as intelectuais e ativistas norte-americanas Gina Dent, Beth Richie e Erica Meiners.